O Olhar Insubordinado

Sempre gostei das histórias pequenas. Das que se repetem, das que pertencem à gente comum. Das desimportantes. Usando um clichê, eu sempre me interessei mais pelo cachorro que morde o homem, do que pelo homem que morde o cachorro (a anti-notícia). Escrevo sobre o que gosto, do jeito que gosto, com um olhar que é só meu, sem saber muito bem onde quero chegar. Horas atrás conhecí um Homem que aparenta ter seus setenta e poucos anos, com a netinha no colo, e olhos... que olhos incriveis. - Que Linda! Quantos anos ela tem?! - Um ano e oito meses, grande, né?!

Com sua primeira e única netinha, ele dedicou uns minutos do seu tempo a me contar da experiência de ser pai, de ser avô, filhos criados, casados, uma casa grande demais pra morar com a esposa, e garante: Ser pai é muito bom, mas ser avô é bom demais! Não seria nem preciso falar. Aquele olhar era alegria pura, quase dava pra pegá-la com as mãos... brilhavam com cada movimento da pequena.

Essa é uma época da incontinência verbal. As pessoas falam demais e irremediavelmente, uma excessiva valorização da palavra dita. Qual a ameaça contida ao silêncio? A hipótese que quero afastar é a do olhar confundido por camadas de rotina e decepções que nos impedem de ver. Merecemos uma proposta transformadora de perceber, de nos perceber. É uma decisão que cada um se define. Um exercício da liberdade, do livre-arbítrio. Seja generoso, arrisque. Ouse. Olhe.

Camila Siqueira